sexta-feira, 30 de março de 2012

Apreciar o verde e respirar a honestidade

Por Bor Zanon

...Toda consulta pública que participo (desde agosto de 2011) é assim: espaço introdutório para os secretários da Prefeitura explicarem do que se trata o assunto, e algum tempo para os cidadãos fazerem perguntas e contribuírem com sugestões.

Nos casos em que estive presente eram debates sobre a Lei Complementar 417/2004 do Plano Diretor, em que o principal tema é a Serra do Japi. Desta forma, todas as consultas que participei seguiram rigorosamente este modelo. Porém, algumas coisas mudaram na reunião do dia 29 de março de 2012. 

A primeira delas foi a presença de um apresentador. Um senhor de blazer, gravata preta e camisa amarelo mostarda. Um homem que, sem dúvida, entende mais de fazer piadas do que educação ambiental. A este senhor ficou incumbida à missão de – como ele mesmo disse – ser o chato da audiência, ou seja, a missão de estipular e expor algumas regras criadas. Entre elas, uma regrinha básica de proibir as críticas construtivas. O apresentador dizia e repetia “Não se pode fazer denúncias”. Traduzindo: não se fala do que a gestão atual deixa de fazer. 

Outro senhor, mais importante do que o apresentador, de camisa social e gravata, explicou quais atividades são proibidas na Serra do Japi, como extração carvão, mineração, criação de loteamos e indústrias, entre outras. Este mesmo senhor esqueceu-se de afirmar que precisamos proibir a malandragem que rodeia a Serra do Japi. 

De acordo com ele, a Prefeitura está preparando um seminário para nortear melhor os usos e as limitações da Serra. E mais, afirmou que as secretarias estão se empenhando para antecipar este seminário de junho para maio. Legal, né? 

Seria ponto positivo para os engravatados? Não, pois o homem importante ficou tão entretido em ressaltar que estão fazendo este favor aos jundiaienses, que “esqueceu” de mencionar que o seminário já foi adiado duas vezes, sendo que a primeira data para apresentação estava prevista para abril de 2012... Leve deslize, creio eu.

Mas vamos ao que interessa. O verdadeiro destaque da audiência: a participação efetiva dos cidadãos. 
O primeiro a falar foi um homem moreno, que explorou alguns defeitos para questionar o que a administração planeja para consertar alguns equívocos. A segunda a falar foi uma moça de cabelo preto e voz suave, que teve ideias grandiosas e pertinentes, como a estimulação do turismo sustentável e outros serviços ambientais. O terceiro foi um homem de cabelo enrolado, integrante de um movimento ambiental, que defendeu com propriedade a preservação de 80% de todo o território da Serra, e a proibição de condomínios e loteamentos na Serra.

Depois disso, mais contribuições vieram, como a criação de uma escola ambiental e a otimização dos usos da Serra com relação às atividades agrossilvopastoril. O rapaz foi até aplaudido pelas sugestões. 

Para finalizar a consulta, o público teve espaço para fazer perguntas e sanar dúvidas. A maioria das respostas ficou como promessa de uma gestão melhor, ou seja, algo para um futuro indeterminado. A única resposta realmente importante foi um pedido de desculpas ao grupo de monitores que prestava serviço na Serra do Japi. O motivo da retratação foi porque baniram os monitores de seus serviços sem qualquer aviso prévio. 

Se ainda tem dúvida de que os jundiaienses estão se mobilizando, vá a uma destas consultas públicas. Veja o quanto é importante para a cidade a sua participação. Assim, você poderá se juntar aos outros cidadãos participativos, que além de querer apreciar o verde, estão interessados em respirar a honestidade.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O Despertador, A Democracia Participativa e as Pressões Populares.



Era tão fácil governar, ninguém participava das audiências públicas, os conselhos eram totalmente cooptados, a imprensa veiculava notícias veladas e o povo dormia em berço esplêndido. Enquanto isso, na moita, os governos faziam o que bem entendiam e sobrava tempo e dinheiro. As audiências, obrigatórias por lei, aconteciam quase sem divulgação e nenhuma participação popular.

Mas de uns tempos para cá, começaram a surgir questionadores, a sociedade civil organizada começou a incentivar a participação dos cidadãos e a imprensa deu voz a alguns desconhecidos e as redes sociais - livres e independentes - passaram a divulgar a importância do envolvimento e da participação.

Então, como se um despertador começasse a tocar incessantemente, as pessoas começaram a participar,  audiências começaram a ficar lotadas. Pessoas se interessando pelas decisões que as afetavam. Alguns conselhos passaram a ter pessoas com opiniões diferentes e fundamentadas e as coisas passaram a ficar mais difíceis para uma administração que sempre foi acostumada a tomar as decisões em salas fechadas sem ouvir o povo.

Sob grande pressão, não houve aumento abusivo para os governantes e parlamentares, sob grande pressão ainda não houve flexibilização da lei que protege a Serra, e devido a mesma pressão, eles estão tendo que debater o Plano Diretor da cidade com consultas públicas, várias audiências públicas e muitas explicações, mesmo que muitas vezes essas não convençam.

É por isso que, mais do que nunca é hora de acreditar na democracia participativa. É a participação das pessoas comuns, dos cidadãos, que pautam as ações dos governos. Essa aproximação das pessoas junto às decisões polêmicas que as afetam diretamente está mostrando que é possível um governo do povo pelo povo, desde que esse povo não acredite que basta apenas votar, mas assuma a responsabilidade de participar.

terça-feira, 20 de março de 2012

Um brinde ao outono!



Outono é a estação do ano que sucede ao Verão e antecede o Inverno, caracterizando-se pelo amarelar das folhas das árvores. No Hemisfério sul, vai de 22 de março a 20 de junho.

Pra mim o outono também é tempo de introspecção, é como se fosse fechar para balanço, e reprogramar para mais um ciclo. Dias quentes de muito trabalho e noites frias para o descanso, é a retomada da sobriedade, é a reordenação da alma.

Gosto do outono porque me sinto amadurecendo nessa estação, é a sensibilidade mais aflorada, é o coração mais desejoso de carinho e afeto. Penso o outono como a estação mais romântica do ano. Um tempo especial para amar e sentir-se amado.

O inverno é muito frio, o verão muito quente... nem as flores da primavera me comovem tanto quanto a beleza do céu azul e o movimento das nuvens do outono, a suavidade das folhas caindo, tocando o chão e adubando a vida.

Outono, ah... outono! estação da alma, do coração, da contemplação. Que a paz do outono nos invada e cumpra sua obra, nos fazendo melhores e felizes. Um brinde ao outono!

segunda-feira, 19 de março de 2012

A passagem de um imortal

Referência em assuntos relacionados ao meio ambiente morreu nesta sexta-feira, 16/03/12, de enfarte o pesquisador Aziz Nacib Ab'Saber, 87 anos, um dos maiores especialistas brasileiros em geografia física e referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais decorrentes das atividades humanas.

Controvertido e muito lúcido, como normalmente são as mentes brilhantes que deixaram seu legado para as presentes e futuras gerações, Aziz não parou um instante de sua passagem por essa existência de realizar aquilo que acreditava, e quando seu coração não mais resistiu, partiu deixando vasta obra que o imortaliza. 

Por isso, hoje não estou de luto, nem triste, porque compreendo a morte do corpo, e hoje, ainda mais, sinto-me responsável por manter vivo os ideais desse que não teve medo de defender aquilo que acreditava, e que estudou a vida inteira,  fundamentando e dando subsídios para que os defensores da boa qualidade de vida no planeta possam continuar sua luta.

Aziz é imortal e certamente vai influenciar gerações, com sua luta, sua obra, seus exemplos e suas convicções. Deixo aqui meu agradecimento especial, e reforço meu compromisso com as causas ambientais, obrigado Mestre.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Protetores da Serra NÃO querem o CONGELAMENTO, querem a REVISÃO DA LEI 417!!



Meu ambiente é Jundiaí. Graças a Deus e ao diabo, estou nesta terra maravilhosa que não é o Rio de Janeiro. Jundiaí, cidade maravilhosa e bairrista, também é a terra da uva. Jundiaí é a cidade de tucanos e jegues. Jundiaí é a terra da Serra do Japi, serra que amo por ser verde e amo mais ainda por ser minha.

Peço desculpas, mas este amor me permite ser ignorante – não confundir com arrogante. Sou ignorante quando se trata da minha terra, nossa Serra do Japi.  E foi isso que fiz no dia seis de março de 2012, fui ser ignorante na audiência pública referente ao “congelamento” de empreendimentos e afins por cinco anos na minha terra.

Ignorante que fui, limitei-me apenas a ouvir. Modéstia a parte, fiz isso muito bem. Diversos especialistas falaram desse tal congelamento, cidadãos, entidades e jegues de modo geral.

Gostei da pergunta de um jovem: “Por que cinco anos, Sr. Secretário?” Na réplica, uma simples explicação. “Por que precisamos discutir a legislação com mais calma”. Entre os ouvintes, surgiram alguns murmurinhos “Foi isso mesmo que o carinha de terno falou?”.

Ora, secretário! Há mais de cinco meses ouço as asneiras dos engravatados e a louvável mobilização dos frenteiros, ambientalistas e verdinhos de todo tipo. Há mais de cinco meses, sou ouvinte assíduo e um ser mobilizado com a NOSSA Serra. Posso afirmar com toda certeza, foram cinco meses ouvindo e concordando com especialistas do meio ambiente, que apresentaram-lhe projetos EMBASADOS para a revisão da Lei 417. Por isso, não me venha falar para ter calma.

Foram mais de cinco meses que os especialistas e os mobilizados tiveram para criar texto redondo e coerente para preservar a Serra.

O resultado foi trágico e pífio. Tive que engolir o sapo de ser apenas ouvinte mais uma vez. E mais uma asneira ouvi. “A revisão da Lei 417 será adiada para que possamos criar um seminário para discutir mais o tema”

Alguns meses deste anúncio e cadê o seminário? Quer que os ouvintes criem isso também? Acho que não é justo.

Mas hoje resolvi parar de ser apenas ouvinte. Hoje fui olheiro, fui observador. E pude observar que havia jovens, adultos e velhos preocupados com o futuro do nosso amor. Observei também a babaquice de um ser que julgou mais importante atacar a faixa do próprio partido do que discutir a preservação da Serra.  

Mas, não me preocupei muito com o fato. Continuei a observar e a ouvir. Observador que fui, pude concluir que não sou a favor do congelamento. Ouviu Sr. Secretário? Minha ignorância não permitirá ouvir nenhum argumento que justifique esta causa. A razão é simples: Aqui em casa, tudo o que coloco para congelar é porque tenho o INTERESSE de utilizar depois. Não quero o congelamento da Serra, quero a mobilização e revisão da lei 417.